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quinta-feira, maio 31, 2007
sexta-feira, maio 25, 2007
Crónicas de um Bibliotecário-Ambulante
Gerações Num tempo em constante devir, em que os mais novos desistiram de ouvir e falar com os mais velhos e sábios, a Bibliomóvel tem sido um ponto de encontro de gerações.
Foi agradável assistir à reunião de três gerações representadas por Avó, Mãe e Filha numa animada conversa em que o tema era os livros e a leitura.
Á chegada da Bibliomóvel estão sentados num velho banco de pedra os “habituais” que versam sobre o tempo, meteorológico e cronológico, ainda pouco habituados a uma presença estranha, procuram no olhar e nos gestos sinais de confiança que a pouco e pouco se vai conquistando.
Sentadas num vão de escadas de uma casa abandonada pelas gentes e pelo tempo, Mãe e Filha falam sobre a “Vida” tema invariavelmente frequente nas conversas de todos os dias.
Um grupo de crianças aproxima-se e um pouco a medo vai entrando na Bibliomóvel, explorando os seus recursos, delineando estratégias de prazer em redor de livros, revistas e computadores.
Uma rapariga aproxima-se das duas senhoras sentadas, Mãe e Avó respectivamente, exibindo os livros que tão criteriosamente tinha escolhido. A partir desse momento a “Vida” deixa de ser tema de conversa e transforma-se numa improvisada sessão de “contadores de estórias”, em que os papéis se invertem. A Avó não sabe ler, mas diz: “ se os livros fossem tão bonitos como são agora…”. Na época o trabalho era muito e as bocas para alimentar também e a necessidade de ajudar levou-a a abandonar escola.
Mãe e Avó são agora duas crianças embevecidas suspensas na magia de uma história contada pelo olhar de uma criança. O título é apropriado “Avós” de Chema Heras e Rosa Osuna.
No grupo dos “habituais” as revistas de caça e pesca são avidamente folheadas e aos poucos a desconfiança inicial é quebrada, e as palavras vão fluindo…
No seio deste grupo um membro destaca-se pelo olhar melancólico com que passa pela revista de pesca. Por instantes regressa ao quotidiano duro de uma Campanha do Atum nos mares do Algarve, a que dedicou grande parte da sua vida mas da qual teve de desistir, vergado pelo peso da idade e pelas agruras da vida em alto mar, regressou a sua terra natal sozinho e da qual apenas guarda memórias frias e distantes.
O manancial de histórias de vida vai assim fluindo ao ritmo da ribeira que ao lado corre desmesuradamente e que sem barragem para a conter se irá perder.
O Papalagui
Gerações Num tempo em constante devir, em que os mais novos desistiram de ouvir e falar com os mais velhos e sábios, a Bibliomóvel tem sido um ponto de encontro de gerações.
Foi agradável assistir à reunião de três gerações representadas por Avó, Mãe e Filha numa animada conversa em que o tema era os livros e a leitura.
Á chegada da Bibliomóvel estão sentados num velho banco de pedra os “habituais” que versam sobre o tempo, meteorológico e cronológico, ainda pouco habituados a uma presença estranha, procuram no olhar e nos gestos sinais de confiança que a pouco e pouco se vai conquistando.
Sentadas num vão de escadas de uma casa abandonada pelas gentes e pelo tempo, Mãe e Filha falam sobre a “Vida” tema invariavelmente frequente nas conversas de todos os dias.
Um grupo de crianças aproxima-se e um pouco a medo vai entrando na Bibliomóvel, explorando os seus recursos, delineando estratégias de prazer em redor de livros, revistas e computadores.
Uma rapariga aproxima-se das duas senhoras sentadas, Mãe e Avó respectivamente, exibindo os livros que tão criteriosamente tinha escolhido. A partir desse momento a “Vida” deixa de ser tema de conversa e transforma-se numa improvisada sessão de “contadores de estórias”, em que os papéis se invertem. A Avó não sabe ler, mas diz: “ se os livros fossem tão bonitos como são agora…”. Na época o trabalho era muito e as bocas para alimentar também e a necessidade de ajudar levou-a a abandonar escola.
Mãe e Avó são agora duas crianças embevecidas suspensas na magia de uma história contada pelo olhar de uma criança. O título é apropriado “Avós” de Chema Heras e Rosa Osuna.
No grupo dos “habituais” as revistas de caça e pesca são avidamente folheadas e aos poucos a desconfiança inicial é quebrada, e as palavras vão fluindo…
No seio deste grupo um membro destaca-se pelo olhar melancólico com que passa pela revista de pesca. Por instantes regressa ao quotidiano duro de uma Campanha do Atum nos mares do Algarve, a que dedicou grande parte da sua vida mas da qual teve de desistir, vergado pelo peso da idade e pelas agruras da vida em alto mar, regressou a sua terra natal sozinho e da qual apenas guarda memórias frias e distantes.
O manancial de histórias de vida vai assim fluindo ao ritmo da ribeira que ao lado corre desmesuradamente e que sem barragem para a conter se irá perder.
O Papalagui
terça-feira, maio 22, 2007
Crónicas de um Bibliotecário-Ambulante
Arca dos Sonhos
A naturalidade da cultura deve ser encarada como mais um pressuposto de qualidade de vida. O acesso deve ser natural e espontâneo e não ensaiado, a responsabilidade por facilitar e promover esse acesso deve partir de todos nós.
Corria o mês de Junho de 2006, quando a Biblimóvel se fez pela primeira vez a estrada e estabeleceu contacto com as gentes do concelho de Proença-a-Nova, fruto de um projecto apresentado pela Câmara Municipal de Proença-a-Nova, através do Projecto Reviver no Pinhal e financiado pelo programa Progride.
A Bibliomóvel apoderou-se assim de uma imagem herdada pelas saudosas bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, criadas em 1957, substituindo-se ao Estado na criação de uma estrutura de leitura pública
Ao longo destes meses a Biblimóvel tem encontrado no seu percurso uma população ávida de conhecimento e reconhecimento pela sua situação de isolamento e desertificação, que leva ao esvaziamento das terras e almas daqueles que persistem em ficar.
Os resistentes lutam e tentam manter o legado dos seus antepassados para que os seus descendentes mantenham alguma, da pouca que resta, ligação à sua terra, as suas gentes e aos seus pertences.
A labuta diária não permite aos seus habitantes pensarem demasiado na solidão e isolamento a que muitas vezes se encontram votados, mas por vezes fraquejam e quando aparece alguém forasteiro, as mágoas começam a fluir e muitas vezes o trabalho da Bibliomóvel, mais do que disponibilizar informação, transforma-se num confessionário onde são desabafadas e carpidas as dores da alma e do corpo.
Ao longo destes meses realmente as dores têm sido muitas, mas as alegrias e a sabedoria transmitida nestas deslocações tem contribuído para a compilação de inúmeras histórias de vida.
Os recursos da Bibliomóvel tem servido muitas vezes para a abstracção destas dores, os livros, os dvd, e principalmente as revistas de bordados e lavores que entre o público feminino tem tido uma grande adesão, procurando nas cores e nos feitios alguma cor que contraste com o cinzento, predominante no seu quotidiano.
A naturalidade da cultura deve ser encarada como mais um pressuposto de qualidade de vida. O acesso deve ser natural e espontâneo e não ensaiado, a responsabilidade por facilitar e promover esse acesso deve partir de todos nós.
Corria o mês de Junho de 2006, quando a Biblimóvel se fez pela primeira vez a estrada e estabeleceu contacto com as gentes do concelho de Proença-a-Nova, fruto de um projecto apresentado pela Câmara Municipal de Proença-a-Nova, através do Projecto Reviver no Pinhal e financiado pelo programa Progride.
A Bibliomóvel apoderou-se assim de uma imagem herdada pelas saudosas bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, criadas em 1957, substituindo-se ao Estado na criação de uma estrutura de leitura pública
Ao longo destes meses a Biblimóvel tem encontrado no seu percurso uma população ávida de conhecimento e reconhecimento pela sua situação de isolamento e desertificação, que leva ao esvaziamento das terras e almas daqueles que persistem em ficar.
Os resistentes lutam e tentam manter o legado dos seus antepassados para que os seus descendentes mantenham alguma, da pouca que resta, ligação à sua terra, as suas gentes e aos seus pertences.
A labuta diária não permite aos seus habitantes pensarem demasiado na solidão e isolamento a que muitas vezes se encontram votados, mas por vezes fraquejam e quando aparece alguém forasteiro, as mágoas começam a fluir e muitas vezes o trabalho da Bibliomóvel, mais do que disponibilizar informação, transforma-se num confessionário onde são desabafadas e carpidas as dores da alma e do corpo.
Ao longo destes meses realmente as dores têm sido muitas, mas as alegrias e a sabedoria transmitida nestas deslocações tem contribuído para a compilação de inúmeras histórias de vida.
Os recursos da Bibliomóvel tem servido muitas vezes para a abstracção destas dores, os livros, os dvd, e principalmente as revistas de bordados e lavores que entre o público feminino tem tido uma grande adesão, procurando nas cores e nos feitios alguma cor que contraste com o cinzento, predominante no seu quotidiano.
O Papalagui