Crónicas de um Bibliotecário-Ambulante
Agradável Imprevisibilidade
A partir do momento em que a chave da ignição é ligada e a Bibliomóvel se faz à estrada pelos caminhos de Proença-a-Nova ao encontro das suas gentes é como uma “Caixa de Pandora” que se revela.
Apesar da igualdade de circunstâncias, o imprevisível acontece: Uma luz diferente que confere à paisagem uma tonalidade diferente, consoante a estação, um animal que cruza o asfalto, um piropo mais atrevido, um pedido mais extravagante, um desabafo mais profundo, uma dor distinta, uma anedota mais picante, novas paragens, novos utilizadores, novos livros a recomendar, novas construções no caminho, novos nascimentos (poucos), falecimentos (muitos), vinho novo, enchidos frescos, enfim uma miríade de acontecimentos e eventos que nunca deixam instalar uma previsível rotina.
Sentado na cabine da Bibliomóvel, verifico tudo antes de arrancar para mais uma jornada. Hoje é dia de parar numa escola e, como em outras paragens similares, hoje sei que a agitação vai ser constante. Não me enganei! Ao abrir das portas do “estaminé” logo a gritaria se instala e sedentos de leitura e animação correm pelo recreio da escola até ao portão de entrada, onde se encontra estacionada a Bibliomóvel.
-“Boas tardes rapaziada!!!”
-“Olá…Olá …Oláaaaa!!!”
-“ Este… estes….livros são para entregar!”
-“ Quero levar mais destes!...”
-“ Ligue-me lá o computador...DEPRESSA!!!.”
-“Ehhhh lá!!! Tenham lá calma, que isto chega para todos”
-“Quero levar o dvd dos Gatos Fedorentos. Ele tá cá?”
-“Sim já to dou, espera só um pouco”
-“ Não quero-o agora já antes que a (…) o leve!”
- “Ok toma lá! Deixa-me fazer a requisição”
-“Depressaaaaa….!!!”
- “Calma!”
- OHH!!! você é parecido com este dos óculos do Gato Fedorento, não fosse esses ferros que tem nos dentes…!”
Saio com ritmo apressado, pois estou atrasado para a próxima paragem, ao passar numa terra vizinha duas senhoras fazem incessantes e constantes sinais, da berma da estrada, para eu abrandar e parar, obedeço!
-“Estávamos a ver que o Sr. hoje não passava por aqui!”
-“ Eu passo sempre de 15 em 15 dias, mas como nunca via ninguém nas ruas, nunca parei.”
-“ Sim nós sabemos, o Sr.Padre já tinha dito que o Sr. ia à (…), mas o Sr. bem que podia fazer uma pequena paragem aqui, não podia?”
- “Posso, posso. Fica combinado então. A partir de hoje, de 15 em 15 dias a esta hora, paro neste local.”
-“Obrigado, cá estaremos e vamos avisar a nossa vizinha que ela também gosta muito de bordados.”
-“ Não fiquem à porta entrem! Cuidado com o degrau!”
-“Ora então vamos lá ver… Humm muito bonita a carrinha!”
-“… não tem cá nenhum livro de receitas para diabéticos e para emagrecer?”
-“ Tenho estes 2!”
-“… é mesmo isso que eu vou levar!”
O imprevisível pode por vezes ser agradável!
O Papalagui
espectacular amigo!deveras delicioso a natureza das vivências que nos transmites xcelente trabalho P.F
ResponderEliminarespectacular amigo!deveras delicioso a natureza das vivências que nos transmites xcelente trabalho P.f
ResponderEliminarOlá, Nuno
ResponderEliminarO seu blog está chegando longe, meu caro. Sou albicastrense, casado com brasileira, moro no Brasil há uns 11 anos, e fiquei feliz de encontrar fragmentos da minha Beira interior, assim, de total improviso. Cheguei aqui através dum outro blog, "chamado além do horizonte".
Parabéns e um abraço. Henrique