terça-feira, outubro 30, 2007


Crónicas de um Bibliotecário-Ambulante

Fundo do Túnel

No regresso de terras de “nuestros hermanos”, como o asfalto a percorrer era muito, e sem prejudicar a minha concentração rodoviária, fui pensando e reflectindo em tudo o que vi, ouvi e senti durante aqueles dias de convívio entre pares.

Analisando a situação lusitana, no que diz respeito as bibliotecas móveis, creio que ainda existe alguma desconsideração por este serviço, que penso ser de excelência e com excelentes resultados, não só ao nível da aproximação e divulgação do objecto livro como da promoção desse nobre acto que é a Leitura, através da criação de redes de proximidade, cumplicidade e até de amizade.

Para além disso este serviço joga, em zonas mais isoladas, um papel predominantemente social de apoio a populações que o crescimento e o desenvolvimento apenas deixou marcas como a solidão e o isolamento, em parte devido ao maciço êxodo rural que padeceram e padecem.

Sem menosprezo para o trabalho diário de grande parte dos meus colegas de ofício, lançava aqui um pequeno desafio/provocação.

Planeiem a “fuga” dos vossos gabinetes, salas de leitura, depósitos, salas de reuniões e apostem no serviço itinerante de biblioteca!

Experimentem as sensações diárias de dever cumprido, como bibliotecários acima de tudo, mas experimentem principalmente a sensação de “luz ao fundo do túnel”, proporcionado pela versatilidade e a miríade de novas profissões em que nos temos de especializar para irmos ao encontro dos desejos e anseios dos nosso utilizadores.

Creio que muitos companheiros de profissão após essa experiência, única irão ver os serviços itinerantes com outros olhos e contribuir para que este tipo de recurso tenha um efectivo renascimento em Portugal e transformemos as actuais e futuras Bibliotecas Itinerantes em dignas herdeiras das Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian, verdadeiras “luzes” que com certeza iluminaram e iluminam hoje em dia, com toda sua influência, muitos antigos utilizadores.

O Papalagui


2 comentários:

  1. Verdades incómodas refere no seu post e um desafio pertinente.

    Mas este povo raras vezes sabe usufruir o bom que se lhe oferece. Impera o reinado do betão e mudam tudo menos o essencial:

    as mentalidades.

    Cpts e bom fds

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  2. Vejo que a diferença de "dimensão" das bibliotecas móveis em Espanha é significativa, mas não será concerteza na sua pertinência.
    Penso que compreendo o seu desabafo e o desafio que lança a colegas de profissão. Aliás, penso que a experiência da itinerância é de extrema importância para a leitura da realidade. A experiência da itinerância no sentido em que o profissional, seja de uma biblioteca especializada ou de biblioteca pública, no exercício das suas funções se aproxima dos seus públicos, indo ao encontro deles no seu local próprio de acção (crianças nas ruas da aldeia, adultos no café, jovens no bar, alunos na sala de aula, professores no gabinete…). Percebo a exortação que faz aos seus colegas das bibliotecas municipais, e estendo-a à minha realidade – a das bibliotecas do ensino superior.
    Um dia, quem sabe se nos cruzaremos numa dessas estradas do país profundo e real!

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