Com a criação da Maletras – A Mala das Letras serviço de apoio bibliotecário aos Centros de Dia do concelho de Proença-a-Nova, pretende-se transportar alguma animação a gentes que pela dura realidade da nossa existência se transformaram em reflexos de outrora, limitando-se a esperar que as horas e os dias passem.
Aqui os nossos objectivos como bibliotecários, na promoção do livro e da leitura, a disponibilização eficaz e eficiente da informação é de certo modo substituído pela tentativa de levar algum conforto emocional com palavras e presença amistosa, que possam mitigar um pouco a falta do aconchego do lar, a saudade pela ausência dos entes queridos, a falta de vigor físico e mental, enfim o desalento da impotência sentida por se verem cada vez mais excluídos e dependentes dos processos habituais e básicos da sua subsistência.
A incerteza da reacção à nossa visita é um sentimento que assalta o meu intimo pensar, a cada nova paragem da Bibliomóvel. No entanto essa incerteza era agora maior e causava, confesso, alguma ansiedade.
Essa ansiedade era sem dúvida proporcional à dúvida sobre qual seria a recepção dos utentes do primeiro Centro de Dia a ser visitado pela Maletras, durante a curta viagem, mil e uma imagens e sons passaram-me pelos sentidos, mil e uma ideias assaltaram-me a razão, mil e uma duvidas cercaram a minha mente, apenas uma certeza… a vontade de fazer sempre o melhor possível.
Foi com essa vontade de sempre e creio que para sempre, que entrei porta a dentro…
Depois da saudação, peguei num livro que estava na Maletras, sobre usos e costumes do concelho de Proença-a-Nova e começamos, em conjunto um exercício de busca de significado para algumas palavras e expressões usadas pelos seus habitantes, em tempos idos e que permaneceram na
memória destas gentes, embora grande parte delas estejam ainda no vocabulário quotidiano destas terras.
- “Começamos pela primeira letra do alfabeto, a palavra abagado, o que acham que ela significa!?
-Abagado…!? Eu acho que é algo caído!
- Aquela casa está abagada, abandonada, acho que é isso, não é?
- È mesmo isso, acertaram!
-Aqui vai outra, a palavra abentesma, o que significa? (gargalhada geral)
-Olhe anda para aí com cada abentesma!!
-Isso é uma pessoa mal jeitosa, toda sem acareio!
- Acareio?? E essa o que significa?
- Significa que uma pessoa com acareio é uma pessoa jeitosa, bem compostinha!
-Encontrei aqui outra interessante, berzundela, o que é?
-Olhe andam por aí muitas abentesmas com grandes berzundelas…!
- Isso é os bêbedos…!
-Então e uma parouvela?
- Uma parouvela é uma ventania…!
-Uma rajada de vento…! Vem uma parouvela de vento e levanta-nos a saia…!
- O que é uma garouva?
- Olhe isso éramos nós quando mais novas, éramos muito brincalhonas, agora é que já não…!”
Na viagem de retorno uma imagem ficou gravada na minha memória e que apagou toda a ansiedade inicial, as gargalhadas dadas durante aquele exercício de reavivar palavras e expressões, fizeram surgir no meu interior o sentimento de plenitude e de missão cumprida, mas não finalizada.
O Papalagui
Ese es hacer el rol social del bibliotecario.
ResponderEliminarEse rol con el que tanto se llenan la boca algunos colegas, sobre todo cuando están en la universidad, y que cuando ya son profesionales lo olvidan, prefiriendo un trabajo que les dé más dinero.
Saludos colega, desde Santiago de Chile
(Ahra se volviò a retomar el blog de Campo 500 http://campo500.blogspot.com )
Mais uma vez emocionada.
ResponderEliminarAcho que entendo o seu sentir.
Todos os dias estou com idosos, num Centro de Dia.
FORÇA!