segunda-feira, dezembro 22, 2014

poder de uma “bacia de couves”

crónicas de um bibliotecário-ambulante

 poder de uma “bacia de couves”
 Umas mãos frágeis, uma postura de presença/ausência, uma voz quase imperceptível é a sua imagem de marca identitária. Já lá vão mais de oito anos desde que conheci esta senhora. Nunca estabeleci com ela, um diálogo para além de um simples cumprimento circunstancial. Impávida, serena e silenciosa, sempre no mesmo sítio.
O ambiente não estava propício para escuta de leituras, ora era uma tosse cavernosa, ora uma ou outra conversa paralela, ora a passagem de algum retardatário. A leitura continuou!
“ Na véspera a tarde, Tonho viu a avó guisar um bocado de carne magra que tinha guardada numa talha de barro e coberta com banha. Se fosse a mãe, teria perguntado para que era aquela carne, mas por ser a avó, não teve coragem de dizer nada. Como não ia haver nenhuma festa, com certeza que era para o jantar de todos…Quando a noite foram cear, ao ver a bacia das couves, pensou que a carne viria a seguir e quis guardar espaço no estomago para uma coisa que tanto apreciava. Comeu apenas algumas colheradas de couves, lentamente, fazendo tempo…”
 in A Flor do Feto Real – M.Assunção Vilhena
Vindo lá do mesmo sitio de sempre, mas já com uma voz mais perceptível e perfeitamente audível, iniciou-se um relato tremendo bastante ilustrativo de outros tempos, outras necessidades e diferentes perspectivas perante as adversidades.
Palavras de sofrimentos passados numa infância distante como mão-de-obra (quase gratuita) em trabalhos esforçados a troco de pouco ou de quase nada:
- “no primeiro dia apareceu um prato de tomates e uma fatia de broa e no dia da acabamento deu-nos uma bacia de couves com restos de farinheira. Para o marido, pão de trigo e bucho recheado!! O (…) abriu a cesta do almoço, perguntou para quem era o pão de trigo. Quando soube que não era para nós, pegou nele e atirou-o para o poço e disse que se o patrão o quiser comer tem de o ir buscar!!!! ”
A leitura terminou!
Outras palavras mais importantes se soltaram e de um monólogo passou-se imediatamente a um diálogo a três, quatro, cinco vozes, libertando memórias e ecos de um tempo passado e guardado, por vezes a sete chaves íntimas, como que tentando fazer um arquivo selectivo de dores e pesares.
Aquela voz e presença, outrora ausente, ganhou um novo espaço. Um clique, um interruptor que se conectou e libertou algo que estaria preso nos fundos do seu ser.
 Nas despedidas um sorriso cúmplice, o mesmo apertar de mão frágil, a mesma postura, mas agora uma frase mais audível e sensível:
- “ Boa viagem e volte sempre!”
Volto!
Regresso com mais "bacias de couves!"
Até 2015.

sexta-feira, dezembro 19, 2014

pérola televisiva

 vontade.ir.fazer acontecer


 pérola televisiva

postal

crónicas de um bibliotecário-ambulante
padrão-s.p.esteval-lameira de ordem-palhota-monte fundeiro-borracheira

quarta-feira, dezembro 17, 2014

o guardião

 assistência luminosa e calorosa

 o guardião

 estreitezas II

 estreitezas

"ferramentoteca"

crónicas de um bibliotecário-ambulante
fundação joaquim lourenço - corgas - malhadal

terça-feira, dezembro 16, 2014

mancha negra

 caminhos

 portugal decorado

 bancada do solário

mancha negra

crónicas de um bibliotecário-ambulante
rabacinas - sobral fernando - maxiais - giesteiras

quinta-feira, dezembro 11, 2014

derradeiro

 derradeiro

 gratidão

ofuscas

crónicas de um bibliotecário-ambulante
cunqueiros - fórneas - pedras brancas

sexta-feira, dezembro 05, 2014

"avó", Biblioteca, enciclopédia

crónicas de um bibliotecário-ambulante

avó, Biblioteca, enciclopédia

Foi numa tarde de um quente verão, atendia-se dentro da Bibliomóvel as últimas solicitações das últimas frequentadoras habituais, na barreira inclinada uma senhora esforçava-se pé ante pé apoiada numa bengala para chegar a mercearia. Olhou por instantes, desconfiada para tão estranha azáfama dentro e fora daquele veículo (para ela estranho!). Seguiu caminho. Continuou a azáfama!
Entrei na mercearia para fazer as despedidas, e a mesma senhora sentada num pequeno banco rasteiro, cumprimentou-me. Cumprimentei-a. Interpelado pela dona da mercearia, sobre se ainda andava a recolher histórias, rematou:
- Aqui a D.Lídia é que era a pessoa certa! Ela tem muitas para contar.
- O meu nome é Nuno!
- Eu sou Lídia Delgado, mais conhecida por Lídia Cesteira, sou dos CONQUEIROS (e não Cunqueiros!!!!) sou costureira, bordadeira, tecedeira, faço versos e sou zeladora do sagrado coração de Maria!
Estava feita a apresentação e que apresentação.
Uma conversa rápida de despedida e de compromisso para visitar a sua casa, para escutar e observar as peças executadas com rigor e perícia, deixar ocasionalmente um livro, revistas e claro registar aquela torrente imensa de saberes e sentires que se adivinhava. Confirmou-se!
Passaram quinze dias, novamente estacionado em frente ao café/mercearia sou confrontado com um recado/lembrete:
- A D.Lidia ligou para aqui a saber se você vinha e pedir para lhe dizer para não se esquecer de lá ir!
Fui!
Uma descida sinuosa por ruas estreitas, uma curva apertada que fez duvidar na passagem incólume da Bibliomóvel, atravessar uma pequena ponte sob uma ribeira quase seca. Estacionei. Olhei em redor em busca de umas escadas. Saí e comecei a subir a ingreme escadaria pensando como seria possível alguém com manifestas dificuldades de locomoção, conseguiria descer e subir tamanhos obstáculos. Mas conseguia!
Foi primeira de muitas visitas. Umas mais rápidas outras mais demoradas, mas sempre alguma coisa oferecida e recolhida. Material e imaterial!
Havia sempre uma avidez na forma como queria transmitir, contar e mostrar TUDO o que sabia.
Quando levava outras pessoas havia sempre um mimo, em forma de um pano, elegantemente bordado para oferecer como lembrança da sua visita.
Guardo alguns deles, oferecidos ao meu filho (com as iniciais dele bordados) com muito carinho.
Recentemente um acidente vascular tinha-lhe retirado ainda mais da já reduzida mobilidade, mas isso não lhe afectou o humor, por vezes caustico e vernáculo que usou sempre para combater anos de alguma sofrida existência e vivencia marcada por algumas tragédias familiares.
Falava dos seus filhos, como os seus anjos da guarda que apesar de distantes a guardavam e protegiam.
Falava da sua extrema devoção religiosa e profana que a salvava em momentos de maior aflição.
Essa capacidade de perceber e entender o outro mundo, fazia com que fosse procurada para resolver maleitas que os adágios populares referem como sendo inatingíveis pela medicina tradicional.
Não resisto a contar aqui um episódio:
Numa dessas visitas quinzenais, ao chegar a sua porta e ao ver que estava escancarada (como habitualmente), entrei e chamei-a. Silencio! Voltei a chamar e como resposta apenas um sussurro vindo da sua cozinha. Dirigi-me até ele. Ao entrar um cenário pouco usual, D.Lidia com uma faca na mão passando pelo braço e tronco de um senhor, acompanhado pela sua esposa, rezando em voz baixa. Surpreendido, recuei e aguardei!
Na saída um agradecimento feito e um esclarecimento sobre aquele ritual ancestral, para terminar com o “Cobrão” passado de geração em geração e que servia para colmatar o fácil acesso a cuidados de saúde oficiais e tradicionais.
Estes e outros saberes foram-me entregues com a satisfação e o orgulho. Com orgulho e enorme satisfação bebi esses e outros ensinamentos de vida e para a vida.

Bem Haja D.Lidia!

" Aqui na minha terra
há biblioteca ao domicilio
o senhor que a conduz
é alegre e divertido.

A Biblioteca-Ambulante
por mês vem duas vezes
tira fotocópias bonitas
traz bons livros para leres!

Maria Lidia do Nascimento Delgado - "Lídia Cesteira"

Descanse em paz D.Lidia!





quarta-feira, dezembro 03, 2014

acordeonista - fábio farinha do malhadal

polares

ouvinte

 já se ouve...contra o frio!

 ferramentas de sustentabilidade(ficaram a porta!)

"habeas corpus!?!"


cultura anti-oxidante

 mudou e virou!!

 tvi!

assistência inclinada

batuta 

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fundação joaquim lourenço(carregais) - corgas - malhadal