Menino Sonhador
Era uma vez um menino sonhador, sonhador como são todos os meninos de 10 anos, que tinha uma relação de proximidade com os livros muito forte, fruto da grande insistência por parte dos seus progenitores, que desde muito cedo incentivaram essa proximidade e alimentaram essa cumplicidade.
Desde os livros de pano até às enciclopédias de História, Geografia e Ciências Naturais, passando pelas aventuras de Julio Verne, Enid Blyton, Rudyard Kipling e sem esquecer as BD da Disney, Tintin, Astérix, Lucky Luke, Turma da Mónica, Major Alvega, Mamselle X, ENE3 e afins… eram presentes assíduos em aniversários e períodos natalícios.
Esse menino, quando acabou a 4ª classe, recebeu do seu professor uma prenda, que apesar de não lhe ser estranha (livro), levantou alguma estranheza e falta de compreensão em relação ao seu enredo.
Resumindo o livro, este relatava as aventuras e perplexidades de um chefe índio de uma ilha dos Mares do Sul trazido por uns missionários para um qualquer país ocidental, este confronto com algumas incongruências da nossa vivência ocidental confundiu e de que maneira, a jovem e sonhadora mente desse menino.
Havia outra importante personagem, essencial nesta vivência e convivência com os livros, era o livreiro responsável pela livraria que existia a meio da avenida, onde os seus progenitores possuíam um pequeno comércio dedicado a outras delícias, estas de cariz mais gastronómico.
Manhãs e tardes sem conta, sentado nos degraus da sala principal, ou no chão em frente as prateleiras da BD a folhear, cheirar e ler álbuns inteiros, sem a obrigação de adquirir nenhum (embora muitos deles tenham ido parar a alguma ou outra lista de presentes). Havia ocasiões em que as portas da livraria se fechavam (para um café e pastel de nata) mas o menino, esse, ficava com o beneplácito do livreiro, qual guardião de um templo vazio de gente, mas repleto de personagens e mil e uma aventuras, que transformavam o aparente silêncio de uma loja vazia numa contínua algazarra de guerras, batalhas e duelos ao pôr do sol.
Passado um par de anos, vieram as revoluções do universo ZX Spectrum 48K (128K), a NBA, o Benfica, os rallyes, a Formula 1, as miúdas do pátio de basket e do pátio de voley, as diferenças entre “surfistas” e os “metálicos” que eram avidamente discutidas e escalpelizadas nos intervalos (e durante as aulas!) do Liceu.
Nos trajectos diários a caminho do Liceu, num atalho tantas vezes percorrido, havia uma imagem longínqua no estaleiro municipal que se destacava, um veículo estranhíssimo com formas bizarras e pouco aerodinâmicas, captava atenção desse menino agora com 13 anos.
Certo dia essa imagem longínqua, passou a estar ali a mão de semear, e todos os dias o menino se abeirava dessa aberração automobilística com um olhar curioso e sonhador, igual ao de todos os meninos de 13 anos, com o qual explorava o seu interior em busca de sentido e missão para tão bizarro veiculo.
Ao vislumbrar que o interior desse veículo era forrado de cima a baixo e dos lados de prateleiras e livros, logo imaginou a missão para qual estava moldada aquela aberração com quatro rodas, a que chamavam Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian.
Por mais do que uma vez lembrou-se que como seria interessante e curioso andar com um veículo semelhante, a calcorrear terras e gentes diferentes todos os dias, transportando livros para observar, tocar, cheirar, ouvir e ler…
O Papalagui
Hoje escreveu-se muito no papalagui... muito mais um fotoblog.
ResponderEliminarLindo este texto!
Bem Haja Pedro Príncipe!
ResponderEliminarAs emoções da Pré Paternidade levaram a caneta para estas palavras!
Saudações Bibliotecárias-Ambulantes
Nuno Marçal
Bibliotecário-Ambulante
Parabéns
ResponderEliminarParabéns e obrigada por este blog. Traz um pouco de Proença a todos os que estão longe (no meu caso França). Um excelente texto este. Como compreendo bem o fascinio que os livros podem trazer; adoro ler. Continuação de um bom trabalho e obrigada por este blog. É um pouco de casa que vem até nós.
Emoções da pré-paternidade? Parabéns, companheiro!
ResponderEliminarO texto está, como diz o Pedro, lindo!
Canhota ao pré-papá!
Lindas fotografias, belas palavras, e felicidade duplicada ao teu coração paterno!
ResponderEliminarEste amor eterno nos pega de jeito, não é mesmo amigo?!
Que Deus abençõe sua família que se amplia, e continue ampliando tuas visitas, palavras e registros fotográficos tão sensíveis.
Abraços daqui do Rio de Janeiro!
Ah, dia 17 de maio estarei voando novamente para Portugal. Proença-a-Nova é perto de onde? Estarei no Porto.
Até mais.
Hellenice Ferreira
Que texto maravilhoso!
ResponderEliminarRecordo com muita saudade as visitas ambulantes dos livros da FCG à minha terra. Ficava na fila à espera de entrar naquele mundo cheio de livros!
Tens uma tarefa lindíssima junto das gentes tantas vezes sozinhas e a quem tão pouco se oferece!
Livros são histórias, têm cheiro e sabor, levam-nos a tantos sítios... são do melhor que há! Quem consegue colocar a hipótese de os deixar?
Parabéns pelo teu empenho. Parabéns por conseguires estar à frente, mesmo quando parece estar-se atrás!
Ana Sofia Marçal