Naquele dia tal como noutros dias entrei,sorri,cumprimentei,sentei e comecei a falar e contar.
O livro que tínhamos começado a folhear e explorar a semana passada, era uma compilação de poesia popular de um concelho vizinho, com quadras e cantigas contadas,cantadas e declamadas nas mais diversas actividades domésticas, agrárias, nos processos de corte e do namoro ou num simples perpetuar de uma herança oral e sentimental.
Estávamos no inicio de um ano lectivo, onde pairava no ar o encerramento de algumas escolas e jardins de infância, no entanto mantinha-se a esperança daquelas gentes de ver o "seu" jardim de infância que funcionava paredes meias com o Centro de Dia, a salvo desta avalanche de encerramentos ditados pelo inexorável peso da desertificação e que proporcionava uma perfeita simbiose de afectos e saberes entre os que são e os que já foram meninos.
A entrada na sala de convívio da educadora e da auxiliar em nada fazia prever a avalanche de sentimentos que se avizinhava...
No fim da leitura, a educadora anunciou o encerramento definitivo do Jardim de Infância e distribuiu uma pequena lembrança personalizada a todas as senhoras, com fotografias das actividades do ano lectivo anterior que ilustravam na perfeição a perfeita relação inter-geracional existente nesta instituição.
As lágrimas caiam em torrentes pela faces de umas, outras entregavam-se a um mutismo carregado. Um silêncio ensurdecedor abateu-se sob a sala, aqui e ali alternado por lamentos, desabafos e desejos de felicidades mútuas.
A minha despedida com votos de regresso garantido no dia e hora habituais não serviu de grande consolo a um "exército" que naquela local se reúnem diariamente e que naquela manhã viram partir o seu pelotão mais activo, mais aguerrido, mais ruidoso e divertido na batalha diária contra a solidão e o isolamento.
No regresso a Bibliomóvel não pude deixar de lembrar as primeiras frases de uma das quadras que tinha acabado de ler...SAUDADE!
O livro que tínhamos começado a folhear e explorar a semana passada, era uma compilação de poesia popular de um concelho vizinho, com quadras e cantigas contadas,cantadas e declamadas nas mais diversas actividades domésticas, agrárias, nos processos de corte e do namoro ou num simples perpetuar de uma herança oral e sentimental.
Estávamos no inicio de um ano lectivo, onde pairava no ar o encerramento de algumas escolas e jardins de infância, no entanto mantinha-se a esperança daquelas gentes de ver o "seu" jardim de infância que funcionava paredes meias com o Centro de Dia, a salvo desta avalanche de encerramentos ditados pelo inexorável peso da desertificação e que proporcionava uma perfeita simbiose de afectos e saberes entre os que são e os que já foram meninos.
A entrada na sala de convívio da educadora e da auxiliar em nada fazia prever a avalanche de sentimentos que se avizinhava...
No fim da leitura, a educadora anunciou o encerramento definitivo do Jardim de Infância e distribuiu uma pequena lembrança personalizada a todas as senhoras, com fotografias das actividades do ano lectivo anterior que ilustravam na perfeição a perfeita relação inter-geracional existente nesta instituição.
As lágrimas caiam em torrentes pela faces de umas, outras entregavam-se a um mutismo carregado. Um silêncio ensurdecedor abateu-se sob a sala, aqui e ali alternado por lamentos, desabafos e desejos de felicidades mútuas.
A minha despedida com votos de regresso garantido no dia e hora habituais não serviu de grande consolo a um "exército" que naquela local se reúnem diariamente e que naquela manhã viram partir o seu pelotão mais activo, mais aguerrido, mais ruidoso e divertido na batalha diária contra a solidão e o isolamento.
No regresso a Bibliomóvel não pude deixar de lembrar as primeiras frases de uma das quadras que tinha acabado de ler...SAUDADE!
"Saudade é um desejo
De se obter o que não temos
É querermos dar um beijo
Numa cara que não vemos
É a vontade de um ensejo
Que só tarde ou nunca obtemos
É um mal que dá na gente
E nunca dói, mas sente.
Saudades também são penas
E algumas fazem chorar
Produzindo certas cenas
que para nós são de admirar
Mas de grandes ou pequenas
Quem as sabe ajuizar
É só quem as traz no peito
E sofre do seu efeito.(...)"
Manuel Lopes Ribeiro
De se obter o que não temos
É querermos dar um beijo
Numa cara que não vemos
É a vontade de um ensejo
Que só tarde ou nunca obtemos
É um mal que dá na gente
E nunca dói, mas sente.
Saudades também são penas
E algumas fazem chorar
Produzindo certas cenas
que para nós são de admirar
Mas de grandes ou pequenas
Quem as sabe ajuizar
É só quem as traz no peito
E sofre do seu efeito.(...)"
Manuel Lopes Ribeiro
o papalagui
CRÓNICAS DE UM BIBLIOTECÁRIO-AMBULANTE
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