Portugal e Espanha partilham
fronteiras desde 1143, data em que os seus destinos se separaram pela primeira
vez. Desde então, que uma relação fraternal ambígua, que alterna entre um ódio ancestral e uma
indiferença latente, se tornou a sua imagem identitária.
Nas zonas de fronteira esses
sentimentos são esbatidos e a cooperação é afectiva e efectiva entre os dois
lados da raia diplomática que os separa geograficamente.
Talvez por habitar perto da
fronteira sempre mantive contactos estreitos com o outro lado. Assim, o
conceito de cooperação transfronteiriça não seja de todo estranho, mas antes
natural e lógico.
Em Junho de 2006,quando a Bibliomóvel de Proença-a-Nova saiu para a estrada senti de imediato,fruto da inexistência de documentação sobre as bibliotecas itinerantes(apesar do seu passado glorioso!) a necessidade de procurar informação noutras paragens. Assim aconteceu! Os caminhos cruzaram-se e os viandantes também.
Em 2007, surge o primeiro contacto
com a ACLEBIM (Associação Espanhola de Bibliotecas Móveis). Uma busca na rede
global sobre bibliotecas itinerantes e estava feita a apresentação. Desde logo, houve a percepção que do outro lado havia gente que partilhava histórias, desafios,
sonhos, anseios e pesadelos.
A ligação virtual estava feita e foi-se estreitando ao
longo desse ano, sempre num registo de partilha de informações e conhecimentos
adquiridos.
No final de 2007, após uma longa
viagem, dá-se o primeiro encontro cara-a-cara com a realidade espanhola das bibliotecas móveis.
Chegado o convite para participar no
3º Congreso Nacional, rumámos a Guadalajara onde, pela primeira vez, pude observar e comprovar
as boas práticas, os projectos, a ilusão e a vontade que outros colegas de arte e de profissão, colocavam em prática
naquilo que faziam, nos seus quotidianos de estradas, terras e gentes, transportando e levando a
Biblioteca.
Após este primeiro contacto, um
pacto de cooperação (informal) foi assinado e, desde então, tem sido alargado e
fortalecido com a minha participação e com o apelo à participação activa de
outros colegas portugueses no sentido de , quem sabe, transportar para o nosso país as boas práticas da
Associação e dos seus associados itinerantes.
De dois em dois anos, a família
reúne-se em território espanhol e de dois em dois anos tenho rumado ao seu
encontro, escutando e observando outros projectos, vindos um pouco de todo o
mundo, ao longo destas quatro edições.
Em 2008, a ACLEBIM destacou o nosso
serviço na sua página de internet, apresentando-o na categoria de “Biblioteca
Móvel do Mês”, facto que marcou em definitivo a entrada nesta enorme família
ibérica de bibliotecas móveis.
Em 2009, no Congresso de León, tive
a oportunidade de apresentar o meu blogue fotográfico: http://opapalagui.blogspot.pt/ e fui agraciado com um dos prémios
ACLEBIM (categoria Pessoas) que se destinam a premiar pessoas e projetos que se
tenham destacado no panorama das bibliotecas móveis.
Na quinta edição do Congresso
(Alcala de Henares - 2011) chegou finalmente a vez de apresentar as andanças
com a Bibiomóvel por estradas, terras e gentes de Proença-a-Nova.
Por fim, na sexta edição do Congresso
(Burgos-2013) dedicada aos novos desafios e serviços prestados pelas
bibliotecas móveis, o nosso projecto de recuperação, preservação e divulgação
do património imaterial da nossa comunidade “Ecos de Proença”,
foi apresentado a todos os nossos colegas.
Assim tem sido esta parceria de
vontades, ilusões, desafios de fazer acontecer e de criar oportunidades de
melhorar aquilo que queremos que sejam as bibliotecas do séc.21.
As bibliotecas itinerantes não são
antepassados jurássicos das bibliotecas, mas sim pontas de lança na nossa modernização.
Onde a liberdade de acesso à informação e conhecimento, a promoção do livro e
da leitura, e a disponibilização de serviços úteis às comunidades que servimos,
são a prova que resistimos e não desistimos de afirmar a nossa existência.
As oportunidades de fazer crescer a
nossa identidade funcional são infinitas, vivemos tempos de rápidas transformações, nos formatos, suportes e
conteúdos. A nossa identidade sempre assentou na mobilidade, proximidade e
cumplicidade e com ela estamos mais que preparados para a operacionalização
destas novas tecnologias de disponibilização de conteúdos (e-books, e-readers, qrcodes, mobilephone applications).
Somos Bibliotecas e não importa onde executamos a nossa missão. O importante é executá-la sempre com a responsabilidade da nossa ancestral missão.