crónicas de um bibliotecário-ambulante
“somos menos uma”
Nestes anos a percorrer as estradas ao volante da Bibliomóvel e principalmente nas visitas que aos lares de 3ª idade e centros de dia, os laços de amizade criados, a intimidade e a cumplicidade construídos com aqueles que frequentam e usam os nossos recursos ou simplesmente recebem a nossa visita, transformam-se. Um simples desconhecido e passa a ser elemento próximo e intimo, de um circulo que chega por vezes a raiar o familiar.
O ritmo e circulo habitual da vida, conduz invariavelmente o individuo da nascimento até a morte. Essa condicionante obrigatória e universal, faz parte do nosso quotidiano, mesmo assim nunca se torna num hábito fácil de escutar, sentir e vivenciar.
Ao longo destes anos de andanças como bibliotecário-ambulante, já vi partirem muitos destes que chamava e continuarei a chamar: Amigos não de sempre, mas para sempre!
A frase sintomática de tudo isto que escrevi atrás é sem dúvida:
- “Olhe Sr. Nuno hoje somos menos uma!”
Estas palavras quando soadas e entoadas entram que nem facas pelos ouvidos e instintivamente o olhar perscruta imediatamente a sala em busca da falta.
A falta lá estava, marcada pelo vazio no sofá habitual.
Apesar de ser a que contava mais anos de vida, a sua figura esguia e frágil, escondia uma imensa força de vida e vontade de desfrutar de tudo o que a vida ainda tinha para dar. Os seus olhos pequenos e imensamente luminosos irradiavam essa ilusão sobre a vida.
Vou sentir a sua falta naquele sofá, ao lado da cadeirinha onde habitualmente sentava o meu corpo e tantas vezes, sem grande jeito lia e contava as palavras que você gostava e se chateava com os ruídos e conversas paralelas que as abafavam.
Descanse em Paz MCN!