crónicas de um bibliotecário-ambulante
Crónica Andina - (#15 versão)
A essência de levar Biblioteca
Pública sobre rodas assenta no movimento perpétuo de veículos, gentes, terras,
ideias e sentimentos. Levando este conceito a risca a Bibliomóvel de
Proença-a-Nova e o bibliotecário-ambulante têm levado: As histórias. As sensações.
Os serviços, Os episódios. Os antecessores. Os sucessores. As ideias. Os
sonhos. Os pesadelos. Os anseios a variados pontos do país e deste Mundo.
Um convite, a aceitação e a
confirmação de uma primeira viagem transatlântica até terras do Fim do Mundo.
Chile.
Uma viagem longa, demasiado longa com
algumas peripécias logísticas, apropriadas a sua extensão.
Chegámos!
Um quase rapto (comercial!) levou-me
ao taxista certo, que pelo seu tamanho passara despercebido na floresta de
braços e placas identificativas com os nomes dos passageiros a transportar.
Recebi um novo baptismo identitário (Marcial Nuno), que aliado ao registo da
empresa (transportes Astral) revelava simbolicamente o meu destino. Um outro
Novo Mundo!
O corpo pedia descanso, após
atrasos, corridas desenfreadas,perca de voo de ligação, estadias em aeroportos,
hotel, etc. A Razão e a Emoção pediam outras coisas distintas.
A chegada ao salão da concentração
familiar BiblioMovilera Chilena foi um encontro de caras. Cara a Cara! Afectos
reais que instantaneamente se soltaram e ligaram aqueles membros de uma família
global afectiva e efectiva.
Um dia passado junto daqueles que
fazem, sentem e vivem o mesmo nas estradas, nas terras, nas casas e junto
daqueles que usufruem dos serviços prestados pelas Bibliotecas sobre rodas,
serviu para confirmar uma ideia: Não importa onde! Não importa como! As
Bibliotecas Itinerantes e os seus profissionais não são melhores nem piores que
os outros. Somos diferentes!
Diferentes pela Proximidade.
Periodicidade. Cumplicidade. Intimidade e Amizade para com aqueles que nos
visitam dentro dos espaços itinerantes de Biblioteca Pública (e não só!).
Novos velhos desafios foram
discutidos, estratégias de acção planificadas e apresentadas, avaliação de
actividades passadas foi feita. A Bibliomóvel de Proença-a-Nova e as
Bibliotecas Itinerantes de Portugal foram expostas e acarinhadas pelos
participantes no II Encontro da Red de Bibliomóviles do Chile.
Passado o reencontro familiar
directo, foi tempo de passar aos “primos mais distantes”. Começava o III
Seminário Internacional das Bibliotecas Públicas. Mais de 300 colegas de
profissão das Bibliotecas Públicas do Chile, prontos para escutar
conferencistas vindos da Catalunha, Chile, Espanha, Guatemala, Portugal e
México sobre os novos desafios das Bibliotecas, a promoção do Livro e as
distintas Leituras.
As Bibliotecas Itinerantes voltaram
a ser as vedetas por mais uma jornada. Uma mesa de partilhas de experiências
bibliotecárias itinerantes dava inicio a mais um dia. Dois profissionais, dois
projectos, dois países: Chile e Portugal.
Aguardei a minha vez, escutei, e
observei uma experiência fabulosa de alguém, que como eu percorre “sozinho”
estradas, terras e gentes de uma região ao volante de uma Biblioteca
Itinerante.
Chegou a hora de apresentar as
Andanças da Bibliomóvel de Proença-a-Nova como herdeira de um legado, deixado
pelas Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian como tecedeiras
de uma rede mais social. Nervoso e ansioso agarrava e sentia a textura de uma pulseira
no pulso esquerdo. Oferta de uma senhora, Mulher de M grande, descendente dos
Maias que na véspera tinha gostado de escutar as minhas palavras e ofereceu-me
uma pulseira manufacturada na sua Biblioteca Comunitária símbolo de vida e
resistência da sua comunidade. Procurava nela alguma inspiração! O primeiro
slide apareceu e as primeiras palavras soltaram-se:
Bom
Dia sou Português!
A comunicação ia no seu equador,
quando uma gaffe monumental, surgida na tradução simultânea do meu pensamento
de português para castelhano ia deitando tudo a perder, mas a bonomia da
assistência fez com que tudo fosse perdoado e após um breve momento de
bloqueio, uma gargalhada, prossegui e finalizei. Com bastante alívio!
Um convite inesperado e irrecusável
no final dessa manhã! Seria a recompensa pelo momento inusitado e rocambolesco
da manhã!?! Não sei mas foi imediatamente aceite. Uma visita á primeira
biblioteca itinerante do Chile (que ainda se mantêm em funcionamento)? Como
podia dizer que não!
Saímos rumo a uma das comunas de
Santiago, percorremos geografias estranhas para um europeu. Intensas nas cores,
nos cheiros, nos movimentos e manobras de veículos. A parafernália de novos
sinais e símbolos urbanos mesclados com signos de ruralidade aqui e acolá.
Diversidade caleidoscópica, mas bem estruturada da estratificação social de uma
comunidade.
Uma biblioteca comunitária, uma
Biblioteca comunitária infantil, uma Biblioteca assente numa antiga carruagem
ferroviária (Bibliotren), todas elas visitadas e sentidas como sendo parte
integrante daquela comunidade. Bibliotecas que se sente o pulsar quase
adolescente de uma imensa vontade de fazer acontecer e elas fazem acontecer a
essência de uma Biblioteca Pública: Existir para servir e serem usadas e
abusadas!
Mas então e a Biblioteca Itinerante?
Guardada num passadiço interno,
aguarda a algum tempo por uma reparação que lhe permita regressar as ruas e as
gentes daquela comunidade. Um veículo que encerra em si muitas histórias, fruto
dos mais de 50 anos que leva a percorrer as suas geografias funcionais e
sentimentais. Pormenores deliciosos de engenharia automóvel americana,
preservados ao detalhe e que com detalhe contam episódios de uma história que
ainda não terminou.
Ainda antes desta inesquecível
jornada terminar outro convite surge, e que convite!!!!! Fazer parte da equipa
de outra Biblioteca Itinerante por uma manhã, saltar para o terreno e vivenciar
diferentes emoções, sensações e rotinas. Seria mesmo assim!?! Não Foi!
Uma manhã quente a lembrar o verão
beirão serviu de cenário. Partimos em direcção ao Mercado semanal. No lugar do
pendura observava cada movimento do condutor, cada olhar seu em direcção a
estrada em busca de imprevisto (já tinha visto isto noutro lugar!). As
histórias partilhadas com a colega habitual de rotas. Memórias de outros dias
passados e que marcam e deixaram marca (já ouvi isto noutro lugar!). As pessoas
chegavam, cumprimentavam, escolhiam leituras (as mesmas autoras que deste lado
do Mundo), ofereciam presentes em forma de fruta e doces, partilhavam as suas
dores, alegrias, anseios e perplexidades (já senti isto noutro lugar!). Seremos
assim tão diferentes!? Claramente Não!
O dia não tinha terminado e já
estava novamente convidado para outra experiência bibliotecária. Visita guiada
a Biblioteca Pública de Santiago.
Outra magnifica Biblioteca Viva!
Um espaço recuperado, outrora
armazém estatal frio e burocrático transformado num espaço de vibração cultural
e social onde a comunidade e biblioteca se encontram e trocam espaços,
informação, conhecimento, serviços úteis e afectos, muitos afectos.
Entretanto no seminário colegas de
arte e profissão debatiam e apresentavam diferentes sensibilidades sobre os
novos papéis das bibliotecas, dos livros e suas diferentes
leituras/interpretações.
Para finalizar com chave de ouro
este seminário, uma cerimónia sentida e emotiva de entrega de prémios as
bibliotecas públicas que se tinham destacado durante o ano de 2013. As palavras
deixadas pelos responsáveis nacionais, que com simplicidade desarmante
incitaram todos (TODOS) a trabalharem para que o sucesso seja realmente de
todos e para todos.
As reações dos galardoados e não
galardoados surpreenderam-me. Um misto de alegria e entusiasmo revelam a enorme
paixão pelo trabalho que realizam e claro isso nota-se no resultado final, como
tive oportunidade de sentir nas experiências no terreno.
O Chile…bem o Chile é um país e
melhor do que eu para o descrever está um dos seus filhos predilectos:
Cuando de Chile
OH Chile, largo pétalo
de mar y vino y nieve,
ay cuándo
ay cuándo y cuándo
ay cuándo
me encontraré contigo,
enrollarás tu cinta
de espuma blanca y negra en mi cintura,
desencadenaré mi poesía
sobre tu territorio.
Hay hombres
mitad pez, mitad viento,
hay otros hombres hechos de agua.
Yo estoy hecho de tierra.
Voy por el mundo
cada vez más alegre:
cada ciudad me da una nueva vida.
El mundo está naciendo.
Pero si llueve en Lota
sobre mí cae la lluvia,
si en Lonquimay la nieve
resbala de las hojas
llega la nieve donde estoy.
Crece en mí el trigo oscuro de Cautín.
Yo tengo una araucaria en Villarrica,
tengo arena en el Norte Grande,
tengo una rosa rubia en la provincia,
y el viento que derriba
la última ola de Valparaiso
me golpea en el pecho
con un ruido quebrado
como si allí tuviera
mi corazón una ventana rota.
El mes de octubre ha llegado hace
tan poco tiempo del pasado octubre
que cuando éste llegó fue como si
me estuviera mirando el tiempo inmóvil.
Aquí es otoño. Cruzo
la estepa siberiana.
Día tras día todo es amarillo,
el árbol y la usina,
la tierra y lo que en ella el hombre nuevo crea:
hay oro y llama roja,
mañana inmensidad, nieve, pureza.
En mi país la primavera
viene de norte a sur con su fragancia.
Es como una muchacha
que por las piedras negras de Coquimbo,
por la orilla solemne de la espuma
vuela con pies desnudos
hasta los archipiélagos heridos.
No sólo territorio, primavera,
llenándome, me ofreces.
No soy un hombre solo.
Nací en el sur. De la frontera
traje las soledades y el galope
del último caudillo.
Pero el Partido me bajó del caballo
y me hice hombre, y anduve
los arenales y las cordilleras
amando y descubriendo.
OH Chile, largo pétalo
de mar y vino y nieve,
ay cuándo
ay cuándo y cuándo
ay cuándo
me encontraré contigo,
enrollarás tu cinta
de espuma blanca y negra en mi cintura,
desencadenaré mi poesía
sobre tu territorio.
Hay hombres
mitad pez, mitad viento,
hay otros hombres hechos de agua.
Yo estoy hecho de tierra.
Voy por el mundo
cada vez más alegre:
cada ciudad me da una nueva vida.
El mundo está naciendo.
Pero si llueve en Lota
sobre mí cae la lluvia,
si en Lonquimay la nieve
resbala de las hojas
llega la nieve donde estoy.
Crece en mí el trigo oscuro de Cautín.
Yo tengo una araucaria en Villarrica,
tengo arena en el Norte Grande,
tengo una rosa rubia en la provincia,
y el viento que derriba
la última ola de Valparaiso
me golpea en el pecho
con un ruido quebrado
como si allí tuviera
mi corazón una ventana rota.
El mes de octubre ha llegado hace
tan poco tiempo del pasado octubre
que cuando éste llegó fue como si
me estuviera mirando el tiempo inmóvil.
Aquí es otoño. Cruzo
la estepa siberiana.
Día tras día todo es amarillo,
el árbol y la usina,
la tierra y lo que en ella el hombre nuevo crea:
hay oro y llama roja,
mañana inmensidad, nieve, pureza.
En mi país la primavera
viene de norte a sur con su fragancia.
Es como una muchacha
que por las piedras negras de Coquimbo,
por la orilla solemne de la espuma
vuela con pies desnudos
hasta los archipiélagos heridos.
No sólo territorio, primavera,
llenándome, me ofreces.
No soy un hombre solo.
Nací en el sur. De la frontera
traje las soledades y el galope
del último caudillo.
Pero el Partido me bajó del caballo
y me hice hombre, y anduve
los arenales y las cordilleras
amando y descubriendo.
Pueblo mío, verdad que en primavera
suena mi nombre en tus oídos
y tú me reconoces
como si fuera un río
que pasa por tu puerta?
Soy un río. Si escuchas
pausadamente bajo los salares
de Antofagasta, o bien
al sur, de Osorno
o hacia la cordillera, en Melipilla,
o en Temuco, en la noche
de astros mojados y laurel sonoro,
pones sobre la tierra tus oídos,
escucharás que corro
sumergido, cantando.
Octubre, oh primavera,
devuélveme a mi pueblo.
Qué haré sin ver mil hombres,
mil muchachas,
qué haré sin conducir sobre mis hombros
una parte de la esperanza?
Qué haré sin caminar con la bandera
que de mano en mano en la fila
de nuestra larga lucha
llegó a las manos mías?
Ay Patria, Patria,
ay Patria, cuándo
ay cuándo y cuándo
cuándo
me encontraré contigo?
suena mi nombre en tus oídos
y tú me reconoces
como si fuera un río
que pasa por tu puerta?
Soy un río. Si escuchas
pausadamente bajo los salares
de Antofagasta, o bien
al sur, de Osorno
o hacia la cordillera, en Melipilla,
o en Temuco, en la noche
de astros mojados y laurel sonoro,
pones sobre la tierra tus oídos,
escucharás que corro
sumergido, cantando.
Octubre, oh primavera,
devuélveme a mi pueblo.
Qué haré sin ver mil hombres,
mil muchachas,
qué haré sin conducir sobre mis hombros
una parte de la esperanza?
Qué haré sin caminar con la bandera
que de mano en mano en la fila
de nuestra larga lucha
llegó a las manos mías?
Ay Patria, Patria,
ay Patria, cuándo
ay cuándo y cuándo
cuándo
me encontraré contigo?
Lejos de ti
mitad de tierra tuya y hombre tuyo
he continuado siendo,
y otra vez hoy la primavera pasa.
Pero yo con tus flores me he llenado,
con tu victoria voy sobre la frente
y en ti siguen viviendo mis raíces.
Ay cuándo
encontraré tu primavera dura,
y entre todos tus hijos
andaré por tus campos y tus calles
con mis zapatos viejos.
Ay cuándo
iré con Elías Lafferte
por toda la pampa dorada.
Ay cuándo a ti te apretaré la boca,
chilena que me esperas,
con mis labios errantes?
Ay cuándo
podré entrar en la sala del Partido
a sentarme con Pedro Fogonero,
con el que no conozco y sin embargo
es más hermano mío que mi hermano.
Ay cuándo
me sacará del sueño un trueno verde
de tu manto marino.
Ay cuándo, Patria, en las elecciones
iré de casa en casa recogiendo
la libertad temerosa
para que grite en medio de la calle.
Ay cuándo, Patria,
te casarás conmigo
con ojos verdemar y vestido de nieve
y tendremos millones de hijos nuevos
que entregarán la tierra a los hambrientos.
mitad de tierra tuya y hombre tuyo
he continuado siendo,
y otra vez hoy la primavera pasa.
Pero yo con tus flores me he llenado,
con tu victoria voy sobre la frente
y en ti siguen viviendo mis raíces.
Ay cuándo
encontraré tu primavera dura,
y entre todos tus hijos
andaré por tus campos y tus calles
con mis zapatos viejos.
Ay cuándo
iré con Elías Lafferte
por toda la pampa dorada.
Ay cuándo a ti te apretaré la boca,
chilena que me esperas,
con mis labios errantes?
Ay cuándo
podré entrar en la sala del Partido
a sentarme con Pedro Fogonero,
con el que no conozco y sin embargo
es más hermano mío que mi hermano.
Ay cuándo
me sacará del sueño un trueno verde
de tu manto marino.
Ay cuándo, Patria, en las elecciones
iré de casa en casa recogiendo
la libertad temerosa
para que grite en medio de la calle.
Ay cuándo, Patria,
te casarás conmigo
con ojos verdemar y vestido de nieve
y tendremos millones de hijos nuevos
que entregarán la tierra a los hambrientos.
Ay Patria, sin harapos,
ay primavera mía,
ay cuándo
ay cuándo y cuándo
despertaré en tus brazos
empapado de mar y de rocío.
Ay cuando yo esté cerca
de ti, te tomaré de la cintura,
nadie podrá tocarte,
yo podré defenderte
cantando,
cuando
vaya contigo, cuando
vayas conmigo, cuándo
ay cuándo.
ay primavera mía,
ay cuándo
ay cuándo y cuándo
despertaré en tus brazos
empapado de mar y de rocío.
Ay cuando yo esté cerca
de ti, te tomaré de la cintura,
nadie podrá tocarte,
yo podré defenderte
cantando,
cuando
vaya contigo, cuando
vayas conmigo, cuándo
ay cuándo.
Pablo Neruda
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