crónicas de um bibliotecário-ambulante
avós
que nunca tive
No
início foi a incerteza, nunca tinha feito nada igual. Ler para pessoas já era
um desafio assustador, ler para pessoas com idades para lá (muito para lá) do
equador da vida parecia um repto inalcançável.
As
andanças da Bibliomóvel já deambulavam pelas estradas, terras e gentes de
Proença-a-Nova, quando fui desafiado a visitar um Centro de Dia para ir
ler/contar histórias. Aceitei! Cheio de dúvidas, mas aceitei.
Primeiro
dia. As pernas tremiam, a voz emperrava, com o olhar procurava as reações de
quem escutava ou simplesmente ali estava. As gargalhadas eram sinal de
aprovação e da minha parte constituíam o selar de uma relação que apesar de
começar apenas naquele dia, jamais será esquecida.
Passados
quase 9 anos a Bibliomóvel continua a estrada e o bibliotecário-ambulante
continua semanalmente a visitar aquele Centro de Dia. Nessas passagens fui
ganhando a confiança e a amizade com todas as aquelas avós que souberam receber
e acolher este que vos escreve de uma forma gentil e carinhosa. Nunca tive o
prazer e o privilégio de conviver com as minhas avós, por isso todo o contacto
que tenho com todas essas avós adoptivas é absorvido até a exaustão.
Têm
sido muitas, aquelas avós emprestadas as quais tenho rendido homenagem pela sua
última partida neste jogo da Vida. Hoje despeço-me de uma em particular. A Ti
Rosa da Ferraria acolheu-me no seu regaço, a sua alegria contagiante, a sua
eterna rabugice e critica sobre a modernidade e claro a sua fabulosa capacidade
criativa de jogar com as palavras.
A
falta de conhecimento das regras não era impeditivo para jogar esse jogo de
emparelhamento das palavras sentidas e que as debitava com uma naturalidade e
fluidez impressionante. A cada visita uma mão cheia de quadras trazidas. A cada
visita novos conhecimentos aprendidos e recolhidos, base e inspiração daquilo
que mais tarde seriam os Ecos de Proença. A cada visita o reforçar daqueles
laços que mesmo na fraqueza e no desespero da mudança para um espaço de
acolhimento diferente, não enfraqueceram.
As
palavras que dentro de si juntava e que a mim ( e não só) dedicava ficam como
uma eterna recordação de uma avó que nunca tive.
Adeus
Ti Rosa!
Lá está
o Sr Nuno
Carregadinho
de carinhos
Abala e
vai para o lar
Visitar
os velhinhos.
Para
visitar os velhinhos
Leva
Amor no coração
A quando
chega ao lar
Todos
lhe apertam a mão
Também
cá vem o Sr. Nuno
Bem
disposto a trabalhar
Carregadinho
de carinho
E de
sorrisos para nos dar
Já
chegou o sr.Nuno
Gostamos
muito de o ver
Quando
ele vem para o pé de nós
Ele vem
sempre a correr!
Ele vem
sempre a correr
Nós
temos –lhe muito Amor
Deus
queira que a sua vida
Se
transforme numa flor.
Já
chegou o Sr. Nuno
Vem
sempre por bom caminho
Nós
queremos que ele cá venha
Até que
ele seja muito velhinho.
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