crónicas de um bibliotecário-ambulante
Houve
um dia em que os corredores, ladeados de prateleiras e quatro paredes que
respiravam Biblioteca, foram substituídos pelas curvas do asfalto e os limites
arquitectónicas suplantados apenas pelas linhas do horizonte.
Houve
um dia em que a insegurança e o receio de falhar nunca saíram das minhas
sensações, mas transformaram-se numa vontade de fazer sempre, sempre o melhor
possível, independentemente das condições.
Houve
um dia em que troquei os simples, amistosos mas quase sempre anónimos utilizadores,
por Amigos não de sempre mas para sempre. Amizade construída nos bancos e nas
pedras da calçada, no interior das suas casas, no abrigo das suas adegas selada
a copos de vinho, pão, presunto, queijo, peixe do rio frito e azeitonas, nas
paragens de autocarro ao sabor das inclemências meteorológicas, mas sempre
presentes.
Houve
um dia em senti o imenso poder de transformação que uma Biblioteca que se move,
pode dar a vida de uma pessoa. Os nossos recursos podem ser alavancas e oásis
na vida de alguém que quis ser mais e quer ser melhor.
Houve
dias em que ganhei reconhecimento.
Houve
dias em que perdi conhecimentos e conhecidos.
Houve
dias em que faltou-me o chão, pela fatídica e sempre esperada notícia, embora
sempre inesperada e inexplicável morte de alguém, cuja voz escutada, presença
sentida e saberes recolhidos me habituei a ter sempre no local habitual, na
hora quase sempre certa.
Houve
dias que conheci do outro lado do Grande Lago e da Raya Imaginaria irmãos de
estrada com as mesmas histórias e sensações que naqueles momentos…nos recordam
que não estamos sozinhos.
Houve
dias que nas estradas e nas auto-estradas das redes globais encontrei
desconhecidos, que se tornaram Amigos que atestam o nosso depósito de
combustível social e afectivo.
Houve
dias em que senti que era um miúdo com um brinquedo grande nas mãos!
Houve
dias em que senti o peso da responsabilidade do enorme legado deixado por
outros que tal como eles (eu e a Bibliomóvel de Proença-a-Nova) percorreram as
estradas, terras e gentes deste planeta a fazerem acontecer Biblioteca
Itinerante!
Pode haver dias e dias mas
hoje 26 de Junho de 2015 faz 9 anos que sentei-me ao volante da “carrinha dos
livros”. É um dia como outro qualquer? Sim, pode ser, mas nas andanças da
Bibliomóvel de Proença-a-Nova nunca se sabe… tudo pode acontecer, mais não seja
acontecer Biblioteca Pública sobre rodas, o que por si só já é suficiente para
ser um grande dia. Há dias assim!
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